Trabalho infantil no Brasil recua para 4,2% em 2023, mas ainda atinge 16 mi de jovens
Recuo na série é o
melhor desde o inicio da contagem, em 2016
O Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira (20) os dados
referentes ao percentual de crianças, entre as idades de 5 a 17 anos, que se
encontravam em situação de trabalho infantil em 2023. O índice recuou de 4,9%
para 4,2%, com cerca de 1,6 milhão de brasileiros nesta condição. Segundo
matéria da Folha de São Paulo, o valor é o menor desde o início da série, em
2016, quando foi registrado 5,2%. Até então, o patamar mais baixo era de 4,5%,
atingido em 2019. Nos anos de 2020 e 2021, devido à pandemia, o IBGE
interrompeu a coleta dessas estatísticas.
Nessa condição,
pessoas negras são maioria, ganham menos e assumem posições mais perigosas.
65,2% da população em situação de trabalho infantil são pretos e pardos, 59,3%
destes correspondem ao total da faixa etária. Os brancos, 39,9% do grupo de
idade, são 33,8% dos trabalhadores. Jovens do sexo masculino correspondem a
63,8% dos trabalhadores infantis, enquanto representam 51,2% do total da faixa
etária.
Uma em cada cinco
crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil trabalhavam 40 horas
ou mais por semana, e o IBGE ressalta impactos na educação. Enquanto 97,5% da
população de 5 a 17 anos de idade eram estudantes, a taxa cai para 88,4% entre
os trabalhadores infantis. Frente a 2016, todas as regiões apresentaram queda
do total de pessoas em situação de trabalho infantil, exceto o Centro-Oeste.
Nordeste e Sul tiveram redução mais acentuada desse contingente em relação ao
ano inicial da série, ambos com queda de cerca de 33%.
Entre as regiões do
país, o Norte foi o que apresentou uma maior proporção de crianças e
adolescentes em situação em trabalho infantil, 6,9%, e o Sudeste a menor, com
3,3%. O Nordeste apresentou o maior contingente bruto, 506 mil jovens na
condição. Ambas as regiões, com 2,7% e 1,9% respectivamente, tinham os piores
indicadores de trabalho infantil quando analisadas as pessoas de 5 a 13 anos de
idade, concentrando, juntos, mais de 60% dos trabalhadores infantis desse grupo
etário no País.
Já o contingente de
trabalhadores infantis na Lista TIP (trabalho infantil perigoso), que reúne
atividades de maiores riscos de acidentes e prejuízos à saúde, atingiu o menor
patamar da série histórica, com 586 mil jovens. A queda foi de 22,5% no valor,
em um comparativo com 2022, quando atingiu 756 mil jovens. Em 2016, eram
estimadas 926 mil crianças e adolescentes nas piores formas de trabalho
infantil. O aumento da renda das famílias e aquecimento do mercado de trabalho
são fatores que podem explicar a queda dos indicadores, explica o IBGE.
Rendimentos como
reflexo da desigualdade
De acordo com matéria
da Folha de São Paulo, as desigualdades observadas no mercado de trabalho do
país se estendem ao universo do trabalho infantil, é o que aponta o IBGE.
Crianças e adolescentes identificadas em atividades consideradas perigosas pela
Lista TIP em 2023 eram constituídas majoritariamente por homens (76,4%) e por
pessoas de cor preta ou parda (67,5%). O rendimento médio dos trabalhadores
infantis do sexo masculino era de R$ 815, enquanto as do sexo feminino recebiam
R$ 695. Para pretos ou pardos no trabalho infantil, o rendimento médio era de
R$ 707, e de R$ 875 para os brancos na mesma situação.
O IBGE aponta ainda,
entretanto, que nem todo jovem que desempenha atividade econômica está,
necessariamente, sob a condição de trabalho infantil. Os dados da Pnad Contínua
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) seguem parâmetros de
instituições como a OIT (Organização Internacional do Trabalho) para definir o
termo.
A legislação
brasileira proíbe qualquer forma de trabalho até os 13 anos. Dos 14 aos 15, há
autorização na condição de aprendiz, que deve contribuir para a formação do
jovem. Dos 16 aos 17, o trabalho é permitido com carteira assinada e sem
jornadas noturnas, insalubres ou perigosas. A definição abarca mais casos com a
diminuição da idade, mas, de maneira geral, a criança ou adolescente de 5 a 17
anos está em trabalho infantil quando realiza uma atividade econômica ou de autoconsumo
perigosa ou prejudicial para sua saúde e seu desenvolvimento mental, físico,
social ou moral, interferindo na sua escolarização.
Das 38,3 milhões de
crianças e adolescentes de 5 a 17 anos, 1,85 milhão exercia atividades
econômicas ou de autoconsumo em 2023. Desses 1,8 milhão, 1,6 milhão estavam em
situação caracterizada como trabalho infantil. A atividade econômica a que o
IBGE se refere trata-se de um trabalho, remunerado ou não, que dure por, pelo
menos, uma hora na semana, que pode incluir a ajuda de familiares. Já o
autoconsumo envolve a produção de bens para uso exclusivo do domicílio ou de
parentes, como cultivo, criação de animais, fabricação de produtos ou
construção.
Do total de crianças e
adolescentes de 5 a 17 anos, 3,7% realizavam atividades econômicas (1,4
milhão). Entre crianças e adolescentes residindo em domicílios beneficiados
pelo Bolsa Família, a prevalência era um pouco menor: 3,4% delas (ou 466 mil)
realizavam atividades econômicas. O IBGE não considera afazeres domésticos e
cuidados de pessoas como trabalho infantil. Do total de jovens de 5 a 17 anos,
52,6% (20,1 milhões) realizavam afazeres domésticos e/ou tarefas de cuidados de
pessoas. O número sobre para 56,9% entre meninas e cai para 48,5% entre
meninos.
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